Por Ana Paula Gualberto
Moro no eixo Irajá, Vaz Lobo e Vicente de Carvalho desde meus 5 anos de idade. Desse modo o metrô sempre fez parte da minha vida como referência para locomoção e trânsito na cidade. Vi a extensão da linha 2 na década de 90, quando o Metrô chegou na Pavuna e em Copacabana, e me recordo claramente quando desci pela primeira vez na estação Cardeal Arcoverde e percebi a diferença brutal na estética das estações da Zona Sul e as do subúrbio. Nessa época, lá pelos meus 13 anos, eu não tinha conhecimento das questões sócio-econômicas-políticas que provocam esse tipo de intervenção.
Hoje estive na Zona Sul, e peguei o metrô na estação N.Sra. da Paz. Me lembrei daquela data longínqua, quando passei pela estação Cardeal Arcoverde e tive a mesma sensação de diferença estética: a estação é belíssima, com várias referências ao templo católico. E pra finalizar eu bato de frente com esse equívoco, que mostra implicitamente o lugar de cada um na sociedade carioca.
De um lado, estações de metrô apenas com os recursos básicos para funcionamento. Bairros negligenciados pelo poder público em todos os sentidos, segurança, saúde pública, saneamento etc. O lugar onde os negros vivem.
Do outro lado, as marcas da arquitetura carioca: praias, Cristo Redentor, estações luxuosamente decoradas e… os brancos.
A sociedade impõe a nós o nosso lugar o tempo inteiro, inclusive quando um transporte de massa não funciona com a mesma regularidade aos fins de semana e madrugadas. O negro, nesses espaços, só é bem vindo como força de trabalho, pra chegar sem atraso e o patrão não reclamar.
São muitas coisas implícitas nessas campanhas publicitárias que “refletem sobre a inclusão”. Muito reforço de estereótipo escroto oriundo das mazelas de um sistema escravocrata que nos colocou desde sempre numa condição não-humana. É essencial que percebamos a maldade nesse tipo de postura e que saibamos argumentar e reivindicar nosso lugar de direito.
E o lugar do povo preto tem que ser onde ele quiser, de Leste a Oeste, da Zona Norte à zona Sul.